sábado, 16 de maio de 2009

Falando de estrelas…

Nesta semana recebi um convite de meu colega Eduardo Bessa para participar da blogagem coletiva sobre “LUZ”, promovido pelo Scienceblogs Brasil, fiquei matutando alguns dias sobre o que falaria a respeito… As ideias não acontecem assim, tão naturalmente como parecem depois do texto pronto e acabado!

Entrei no meu blog, fui ler as postagens antigas, olhar uma ou outra coisa para ver se tinha algum lampejo mais interessante para traçar as maltratadas linhas!

Eis que me deparo com o post d e duas semanas atrás, em que fiz uma breve referência aos 15 anos sem Mário Quintana! Mas qual a relação entre o estimado autor gaúcho e a luz?

Naquele dia eu estava sem meus livros de poesias de Quintana, acabei sem colocar nada dele para “ilustrar” meu post. Pois bem, não é que Quintana eventualmente escrevia sobre ciência e objetos científicos e, dentre toda sua produção, um tema sempre se destacou para mim, como bióloga e alguém interessada nos assuntos que mostram o lado bonito da ciência (sim! Acredite! Existem explicações científicas liiiindas! Incluindo a que apresentarei a seguir!)

Sempre gostei de entender e estudar as constelações e explicações da Física e de diferentes culturas sobre a presença das estrelas e suas influências em nossas vidas… Muito chamou-me a atenção quando fiquei sabendo que olhar as estrelas é olhar para o passado!

Como assim? Ora! Aprendi, em determinado momento da vida (sinceramente não sei se foi na escola, ou lendo por aí), que aquilo que vemos no céu, a luz das estrelas, demora muitos milhares de anos para eagleend_hstchegar em nosso planeta! Quando lemos que uma determinada estrela, que compõe esta ou aquela constelação, está distante de nós por milhares de anos-luz (vamos falar, hipoteticamente, 20 mil anos-luz), isso quer dizer que, considerando a velocidade da luz no espaço, nós conseguimos enxergar a luminosidade dessa estrela 20 mil anos depois.

Ainda não ficou claro? Bom, vamos com calma. “Anos-luz” é uma medida espaço-temporal. Assim, se nosso objetivo é alcançar um objeto que se encontra a um ano-luz de distância, isto quer dizer que se “andarmos” na velocidade da luz, no vácuo (como no espaço, por exemplo), demoraremos um ano para chegar até este objeto (um planeta, uma estrela, um meteoro, etc.) Desse modo, a luz de uma estrela que está a 20 mil anos-luz da Terra demora 20 mil anos para chegar até nós, afinal, a “luz” anda na velocidade da luz, no vácuo (com o perdão do infame trocadilho!).

Voltando à ideia de olhar as estrelas é ver o passado, se a luminosidade desses pontos brilhantes demora tanto tempo para chegar na Terra, quer dizer que estamos, ao mirarmos o céu, observando algo que foi emitido (uma luz) há muitos milhares de anos atrás! Assim, os acontecimentos que são estudados na Astronomia são todos pretéritos, já ocorreram e, mais do que isso, cada estrela – ou nascimento, ou morte de estrelas, como vemos as vezes ser noticiado – são episódios de momentos diferentes, pois estão em distâncias distintas em relação ao nosso planeta! Não somente contemplamos o passado, mas passados diferentes! Não é interessante? O nosso tempo – o tal presente – ser vivenciado por nós com algo que já aconteceu em outro espaço e somente agora nos chegam notícias?

Também é pertinente pensar nessa questão da Astronomia ser uma ciência que estuda o passado, de alguns objetos, mas que dizem respeito de nossa vida atual!

E, com isso, retorno à motivação inicial deste post, relacionada ao estudo das estrelas e a presença (pretérita ou imediata) delas em nosso cotidiano: as poesias de Mário Quintana!

A primeira poesia eu recordei-me em função dessa questão do que é passado, e do objeto científico, sem, obviamente, desmerecer o trabalho dos pesquisadores, já vou logo avisando! Mas é uma provocação, sim, a esse trabalho por vezes muito técnico e sem a poesia necessária que torna a vida tão mais bonita (inclusive este poema é a epígrafe do meu primeiro capítulo da dissertação de mestrado!). A segunda poesia é epígrafe do dia-a-dia, da rotina mesmo, para lembrar que sempre tem algo a mais por aí…

As Três Marias

As únicas estrelas que eu conheço no ceú são as Três Marias. Três Marias é um apelido de família… O nome delas é outro, sabem como é a coisa: um desses nomes roubados a mitologias ultrapassadas, com que costumam exorcizar as estrelas. Uns nomes que já nascem póstumos…

Só o que eles sabem é enumerar, mapear, coisas assim – trabalho apenas dignos de robôs.

Olhem, Marias, acheguem-se, escutem: – Vocês foram catalogadas. Ouviram bem? Ca-ta-lo-ga-das! O consolo é o povo, que ainda diz ignorantemente: “Olha lá as Três Marias!”

(Mário Quintana, A vaca e o Hipogrifo, 1979, p.25)


Das Utopias

Se as coisas são inatingíveis… ora!

Não é motivo para não querê-las…

Que triste os caminhos, se não fora

A presença distante das estrelas!

(Mário Quintana, Poesias, 1975, p.112)

P.S.1: Foto retirada de: http://antwrp.gsfc.nasa.gov/apod/ap061022.html

P.S.2: Já não é mais dia 15/05/2009, aqui no Mato Grosso, quando eu terminei de escrever… O combinado era até dia 15, mas falando em distância e toda essa bagunça de tempo-espaço, anos-luz, presente e passado… Achei que não teria tanto problema! Em algum lugar do planeta ainda é dia 15 de maio e, quem sabe, ainda está até dia claro, assim, bem iluminado pela “nossa” estrela: o sol!

Update: somente depois de inserir o meu post, vi que tinha um post no Scienceblogs Brasil, n-Dimensional, sobre a luz das estrelas e a velocidade da luz no vácuo, leiam, obviamente está bem mais explicado do que o que eu fiz...

Abaixo, a propaganda da blogagem coletiva do Scienceblogs Brasil (estão bem legais as postagens por lá, bem diversificado e interessante! Mas sem as poesias do Mário Quintana)

2 comentários:

RG disse...

Estrelas combinam com Ciência e Poesia. Belo texto. Agora dê uma espiada no meu blog novinho em folha!

Cassio Teles disse...

Eu amei o texto, hoje mesmo sentei na varanda e fiquei um bom tempo olhando para o céu e observando as contelações que conheçoe tentando ver as estrelas mais distantes ainda. Lembrei de quando era criança e meu pai que já se foi me falando sobre elas...


Cassio, betim MG. 22 anos.