sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Piso salarial

Só para constar... Foi uma grande e triste derrota no STF, não de uma classe, mas do país...
O piso salarial de 950,00 reais foi aprovado, sim, mas podendo neste valor já estar contabilizadas as gratificações e plano de carreira! Isto quer dizer que o profissional de ensino médio (magistério, por exemplo) e o profissional de ensino superior podem seguir ganhando a mesma coisa, assim com aqueles que investem em uma pós-graduação (seja que modalidade for, especialização, mestrado, doutorado...) . Desse modo, não há nenhum incentivo para que a classe docente siga estudando, se aperfeiçoe.
Para completar, não se legitimou o aumento do tempo de atividade (de 25% para 33%). O que na prática faria muita diferença para estudar, planejar e lidar com o montante de trabalhos provenientes do cotidiano escolar...

Realmente, continua-se pensando no professor como aquele que trabalha quando está na sala de aula, como se não houvesse necessidade de preparo daquele momento, e como uma classe que não precisa de incentivos financeiros, basta o conhecimento. Tal como descrevem Julia Varela e Fernando Alvarez-Uria, em seu texto Maquinaria escolar, nos séculos XVIII e XIX, quando se possibilita uma ascensão social desses de profissionais, só pelo saber, não pelo dinheiro, mantendo-se esse grupo controlado e desinteressado (esse grupo que trabalha com a educação pública, claro... Os docentes dos filhos da aristocracia - ainda que não ganhem mundos e fundos - conseguem alcançar outros padrões financeiros). A educação pública, da massa, essa não precisa de pensadores motivados, querendo levar novidades, com sede de conhecimentos e com tempo para pensar novas e boas práticas que levem a massa ao conhecimento...

Sim, é uma perda da população, não só dos professores.

P.S.: não é definitivo o parecer... esperemos os próximos capítulos.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Notícias que (não) surpreendem...

Hoje entrei no site de Educação do Uol - que visito regularmente em busca de notícias, novidades e curiosidades acerca do tema Educação no país - e chamaram-me a atenção duas notícias: "Blogs melhoram desempenho escolar, diz estudo" e "A cantora Malu Magalhães conta por que adora dicionários".

Fui ler a reportagem que discutia a relação entre o desempenho escolar e os blogs. Sucintamente, é um estudo interessantíssimo, que debate a importância dessa ferramenta eletrônica na produção de textos por jovens, além de ser um importante meio de comunicação e leitura. Segundo a autora do estudo, a partir dos blogs, os adolescentes conseguem formular melhor argumentos para discussões diversas - em função de terem acesso a diferentes pontos de vista, a partir da leitura de vários blogs. Em relação à escrita, o blog mostrou-se também um instrumento de aprendizado importante por não estar submetido à avaliação da professora somente, mas de outros leitores.

A segunda notícia é em formato de áudio, com alguns comentários de Malu Magalhães, a adolescente de 16 anos que virou fenômeno musical ao colocar suas músicas no MySpace. As falas da música e compositora referem-se a alguns de seus passatempos favoritos: conhecer palavras com dicionários etimológicos, de sinônimos, dentre outros, bem como visitar sebos (e, claro comprar livros). Ela cita dois autores: Drummond e Vinícius.

E que relevância tem tudo isso?

Fiquei pensando (com meus botões...) nisso e nas questões que discutimos continuamente nos cursos de licenciatura, tais como: 1. existem diferentes espaços de aprendizagem; 2. os espaços de aprendizagem que não a escola aparecem, continuamente, como mais atrativos.

Ao falar dos blogs, a pesquisadora comenta como esse é um local importante nos dias de hoje, de subjetivação, de trocas, de leituras, etc. E que ao desenvolver este trabalho os adolescentes (e isso não me surpreende) animaram-se muito mais com o ato de ler do que com outras atividades tradicionais realizadas na escola (e na disciplina de literatura e português). Conjuntamente com isso, a pesquisadora apresenta o argumento de como a escola não vê esse tipo de atividade como aprendizagem, a internet é percebida como espaço de jogos e bricadeiras, escrita errada - milhas e milhas distante das normas cultas.

Nas falas da Malu Magalhães vemos, por outro lado, uma jovem interessada em etimologia e leituras tidas como 'legitimas', válidas como literatura. Será que isso decorreu de sua vivência na escola? Talvez seu interesse pela área artística (não sendo relevante - ao menos para esta discussão -  se ela é boa compositora ou não) faça com que ela busque determinados instrumentos de aprendizagem, conhecimento de novas palavras, rimas, significados...

Ao ver essas notícias fiquei pensando se alguém se surpreende pelo fato de a escola não ter sido mencionada por Malu Magalhães - como lugar de aprender palavras - e ao ter sido mencionada pela professora/pesquisadora é no sentido de dizer o quanto o mundo e as vivências desses jovens (ainda) encontram-se fora da escola. O que vivem e pensam pouco (ou nada) se relaciona com o que estamos dispostos a falar dentro daqueles muros. Agora olhe que interessante, duas reportagens que apresentam jovens que gostam de ler, de conhecer palavras em um tempo que professores e adultos em geral passam balbuciando frases nostálgicas de que naquele tempo - seja ele qual for - é que a escola era boa, pois fazia aprender a ler e pensar (será?), um tempo em que os adolescentes são tomados como alienados, ignorantes e desinteressados por tudo vinculado ao saber...

Não sei... Ainda não terminei meus pensamentos de hoje em relação a essas coisas todas. Mas sempre tenho a sensação que esses jovens escapam aos interesses da escola e da sociedade... Ao olhar a instituição escolar vejo conhecimentos fragmentados, duros, pré-prontos fabricados em livros não funcionais, fora da vida do público a que se destina. Saem da escola muitas vezes sabendo responder uma prova, mas sem gosto pelo saber, pelo conhecer... E nos surpreendemos (infelizmente) quando vemos um/a adolescente que passa a se interessar pela leitura (de blogs ou de Drummond) e, mais do que isso, pensa sobre ela!!!

Não me surpreende que essas (e outras) leituras agradem aos jovens adolescentes. Me deixa perplexa o fato de na escola o prazer da leitura ainda seja tomado como notícia...

P.S. Aliás, o que me deixa mais perplexa, fora toda essa verborréia de hoje, por não conseguir finalizar o texto - já antecipando pedido de desculpas para quem gosta da coluna citada a seguir - é que na mesma página em que são apresentados adolescentes que gostam de ler, a chamada de uma das colunas desse site seja "Saiba como fazer a melhor escolha para presentear no Natal" - !?!?!?!? Sinceramente... Ninguém merece.