domingo, 28 de setembro de 2008

Ser professor: possibilitar outros modos de olhar e agir na sociedade

Com o dia do professor se aproximando, tenho pensado no significado dessa profissão e sua importância na sociedade. E é para (e sobre) esses profissionais que me dirijo nessa postagem, que inaugura esse blog!

Escolher essa área de atuação, em nosso país, não é fácil. Ouvi de muitas pessoas, quando fiz essa opção, que não valia a pena. Entre os motivos destaco: o baixo salário, a falta de estrutura das escolas e o desinteresse por parte de alunos, pais e sociedade. Enfim, não se pode afirmar que ser professor é uma tarefa tranqüila (mas alguma é?)! No entanto, penso ser importante ressaltar o quanto aqueles que escolheram esse caminho têm o dever de valorizá-lo.

Ir a uma sala de aula e ensinar tem um sentido mais amplo do que apenas ler livros didáticos (tratado muitas vezes como o “manual prático do professor moderno”, ao invés de “mais um recurso” a ser utilizado), ou resumir os conteúdos da universidade. No dicionário Houaiss, professor é: aquele cuja profissão é dar aulas em escola, colégio ou universidade; docente, mestre; Indivíduo muito versado ou perito em (alguma coisa).

Somente observando esses significados, já teremos subsídios para uma importante discussão: a do professor como intelectual (que é muito versado). Isto é, alguém que é definido como conhecedor de uma área e que passa adiante esse saber.

Ao olharmos a etimologia (estudo da origem das palavras) da palavra professor, encontraremos: o que se dedica a, o que cultiva; manifestar-se; afirmar, assegurar, prometer, protestar, obrigar-se, confessar, mostrar, dar a conhecer, ensinar.

Nesse momento, defendo que ser professor é (ou deveria ser) um ato político, não no sentido partidário, mas como atuante na sociedade, como formadores dedicados de pessoas. Assim, ressalto a nossa importância como formadores que buscam (ou deveriam): assegurar conhecimento às pessoas e protestar contra o modo como o conhecimento (científico e popular) é tratado nos dias atuais.

Em consonância com essa idéia, podemos inferir sobre o significado da palavra “dar”, na expressão “dar aulas” ou “dar a conhecer”, novamente apoiando o argumento no dicionário: oferecer como presente ou brinde a. Desse modo, ser professor mostra-se como mais do que ensinar, é um ato de compartilhar, oferecer (um presente).  Mas... Ensinar (ou oferecer) o quê?

Eis aí, nesse debate, a função do professor como intelectual: alguém que, situado na sociedade, busca modos de ação nas problemáticas locais, qualificando o saber cultural com o saber científico – não desconsiderando o saber popular, mas partindo das práticas sociais em que está, relacionando a ciência com a nossa vida e não com conceitos abstratos e distantes de nossa realidade. Nesse sentido, o pedagogo espanhol Jorge Larrosa, no livro Nietsche e a Educação (Ed. Autêntica), afirma que ensinar: “não é transmitir um método, um caminho a seguir, um conjunto de regras práticas mais ou menos gerais e obrigatórias a todos”. Partindo desse pressuposto, mudo a minha pergunta “ensinar o quê?” – que remete a um conjunto de conceitos universais e desvinculados da realidade – para “como ensinar e possibilitar que as pessoas aprendam a agir e a pensar, a partir dos conhecimentos que temos a oferecer?”. Dessa forma, nos remetemos à questão da aprendizagem percebendo-a como algo que não existe fora da reflexão, ou seja, não existem modos de ensinar os estudantes sem que se interrogue sobre como aquilo que falamos na escola se relaciona com suas vidas. Não para mudar ou ditar regras, costumes e valores arraigados de nossa ciência e nossa sociedade, mas para que possamos oportunizar (e a valorização do docente encontra-se nesse ponto) novas maneiras de olhar e agir – consigo e com a sociedade.