quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

A história de João das Alfaces...

Recebi hoje, pelo Boletim Ciência Hoje, a referência ao curta-metragem "A história de João das Alfaces", produzido pela Embrapa Agrobiologia (Seropédica/RJ). O filme trata da história de João, produtor de alfaces, que tem sua plantação atacadas por formigas, larvas e pulgões. Sem conhecer técnicas alternativas de controle, nosso estimado protagonista tenta resolver o problema com agrotóxicos, sem o sucesso esperado.

A idéia do curta é difundir entre crianças e adolescentes que existem outras maneiras de obter resultados no controle de pragas agrícolas, além das questões dos efeitos desses produtos na saúde humana, debantendo ainda, a questão da educação rural (ou do campo, como alguns autores atuais tem tratado o tema).

Logo após ver a notícia no site da Ciência Hoje das Crianças, fui atrás de mais informações na Embrapa. Achei diversos materiais muito interessantes para trabalhar Educação em Ciências nas escolas, grande parte de pesquisadores da própria Embrapa o que, na minha opinião, denotam qualidade. Além da diversidade de livros, é relevante ressaltar o grande enfoque (em função do propósito da instituição, claro) na Educação do Campo.

Recentemente orientei um Trabalho de Conclusão de Curso na universidade em que trabalho, que versava sobre Educação em Ciências em uma escola rural. Tivemos uma enorme dificuldades para encontrar artigos e textos recentes acerca do tema. Em se tratando de Educação do campo, pouco se fala, estuda e pesquisa no Brasil. O que percebemos nesta pesquisa é que (na escola estudada) o grande enfoque do ensino de Ciências acaba sendo o livro didático. Ao olhar os cadernos das crianças (6ª série, ou 7º ano), vimos que estavam recheados de terminologias científicas (plantas criptógamas, fanerógamas, pteridófitas, etc.). Tais denominações estavam sendo estudadas por jovens de 12 anos de idade, que não sabiam dizer à pesquisadora (minha orientanda) se na disciplina de ciências estudavam seres vivos que eles conheciam... Os estudantes, conhecedores de palavras tão difíceis, não sabiam (e provavelmente não sabem até agora) que pisavam em fanerógamas todos os dias ao ir de suas casas até a porta da escola, nem que essas tais plantas nos servem de alimento, ou estão nas matas próximas às suas residências!

Ficamos chocadas com essa realidade vista nessa escola - muito embora não seja muito diferente de escolas da cidade, em termos de distância entre o conhecimento estudado e a vida cotidiana - como podemos tratar um assunto tão interessante como a Ciência - qualquer que seja a área - de modo a gerar um 'desconhecimento' desses? Como se os nomes bastassem em si?

Nesse sentido, vejo a iniciativa da Embrapa, e de outras instituições de pesquisa, de divulgar o conhecimento produzido de modo que leitores leigos consigam entender, aprender sobre Ciência, vinculando as questões sociais e culturais que nos cercam aos saberes científicos atuais, como de suma importância para o desenvolvimento de uma educação mais consciente, que aliena menos o estudante/cidadão. Ainda mais pensando nesse público específico: escolas, educadores e estudantes.

Mais uma vez bato na mesma tecla - não é possível que uma ciência tão interessante (e linda) como a Biologia seja resumida a uma lista interminável de nomes científicos a serem decorados para a prova no final do bimestre ou trimestre. Ciência é muito mais do que isso, e ensiná-la deveria ser tão fascinante como aprendê-la e enxergá-la em nosso cotidiano!

6 comentários:

Anônimo disse...

Oi, Ana! Muito obrigado por sua visita e comentário lá no meu tosco e humilde blog! Volte sempre, a casa é sua!

E seu blog também não fica atrás. Muito interessante. E parabéns por sua sensibilidade como educadora ao perceber que a ciência é estudada nas escolas sob a forma de "decoreba" e nomes tão estranhos que para a criança "tomar gosto" do assunto é complicado. Evidente que há várias rotinas no trabalho do professor e na própria estrutura da escola que dificultam, de certa forma, aulas mais "vivas", se assim podemos dizer.

É como literatura: se ficar no estudo do realismo, romantismo acaba se tornando chato, monótono e afasta a crianças e jovens do prazer da leitura.

Abs e parabéns pelo blog! Tá muito bom mesmo!

PS: E o curta-metragem é excelente!

Alcione Torres disse...

Tem um selo para você no meu blog. Espero que goste!
http://ensquimica.blogspot.com/2009/03/blog-maneiro.html
Abs.

Unknown disse...

Realmente estou certa de que irei me assustar muito quando for dar aula, pois não tinha noção que isso ainda ocorre. Estou chocada!

Anônimo disse...

Estou chocada... Como existe professor de Ciências, capaz de dar uma aula de "Bontânica" e não ter um pingo de didática ao ponto de não trazer uma planta, que é tão fácil de achar, para que os alunos tenham uma maior compreensão da matéria?
É revoltante!

ANIMAÇÕES disse...

Oi Ana..
Sou Cacinho, diretor de animação do curta A História de João das Alfaces..
Bacana o blog.. concordo com você sobre a forma como nossa educação está bem ruim...
É bom saber que meu trabalho contribui para que se desenvolva o interesse dos alunos.
Bom.. depois se quiser me faça uma visitinha no meu Blog.
Abraços
Cacinho

Ana de Medeiros Arnt disse...

Cacinho!

Que bom que gostaste do blog (e do post dedicado ao curta). Certamente esse tipo de animação é muito significativo para ser usado em salas de aula, para trabalhar conceitos que as vezes, com cuspe e giz, fica mais complicado...
Parabéns pelo trabalho e volte sempre!