quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

O que fazemos serve para o quê?


Agora falando sério
Eu queria não mentir
Não queria enganar
Driblar, iludir
Tanto desencanto
E você que está me ouvindo
Quer saber o que está havendo
Com as flores do meu quintal?
O amor-perfeito, traindo
A sempre-viva, morrendo
E a rosa, cheirando mal
(Agora falando sério/Chico Buarque)

   Em uma reunião com colegas acadêmicos ou que trabalham em divulgação científica, dia desses, escutei a frase:
- O que fazemos não serve para nada...
   Muito embora a pessoa seja a mais otimista deste grupo (ou se diga a mais otimista), soltou como um desabafo em meio à distópicas verborragias...
   Eu diria que enquanto crença em uma sociedade supostamente pautada em conhecimentos cientificamente  estabelecidos e tidos como válidos: sim... O que fazemos não serve para nada!
   Será que não é exatamente por nossa soberba acadêmica de acharmos que o que produzimos academicamente devia ser lido, estudado e levado a sério para gerar um modelo de sociedade?
   Não seria exatamente a arrogância - e até um ressentimento estúpido - por aquilo que produzimos ser, em várias medidas, restrito a poucos e de fato não interessar à população em geral?
   O que temos feito, de verdade, para provar que aquilo que é desenvolvido dentro de instituições como a que trabalhamos faz diferença? Que esforço temos feito para que o que falamos seja, simultaneamente, compreendido por pessoas leigas, sem que isso desrespeite tradições e aniquile conhecimentos, saberes e culturas tradicionais? Que tipo de valor damos, de fato, ao que as pessoas falam e pensam sobre o que fazemos aqui, para reorganizarmos nossa prática científica (lembrando que isso é feito com dinheiro público e que defendemos que siga sendo feito desse modo...)?
   Quando vemos a extinção de fundações de pesquisa e de comunicação públicas, como no estado do Rio Grande do Sul, ou da reestruturação de instâncias como o CNPq e do Ministério da Ciência e Tecnologia, penso que fica claro: não! A ciência e tudo o que fazemos não vale nada. Não serve para nada...
   E temos feito o quê para que isso se modifique? De que modo tu tens discutido o que é conhecimento, como ele é produzido e os motivos de ele ser levado em conta?

P.S.: Tu levas em conta e respeitas o conhecimento produzido no instituto ao lado do teu (e sabe o motivo de essa pergunta ser relevante)?

 Pode ser lido enquanto escutas a música e cortas o pulso : )